Christiane Araújo Angelotti
Fonoaudióloga
A linguagem é um dos aspéctos fundamentais para a comunicação
humana e tanto a sua aquisição como o seu desenvolvimento
dependem de vários fatores, entre eles: o biológico, o afetivo
e o social.
Entre os aspectos biológicos, podemos destacar o processo de maturação
do sistema nervoso central , este responsável pelo desenvolvimento
global do indivíduo e o sentido da audição.
A audição é função fundamental para o
desenvolvimento da linguagem oral.
Inicialmente, a criança passa por uma etapa do desenvolvimento, chamada
de etapa motora, a qual precede o desenvolvimento da linguagem falada. Com
o desenvolvimento desta etapa surgem os primeiros sons ( o balbucio ).
Durante o início do processo de aquisição da linguagem,
o organismo humano encontra-se neurológicamente imaturo, ao sofrer
estimulação do meio ambiente passa a desenvolver as funções
ligadas ao desenvolvimento da linguagem.
As vias sensoriais mais desenvolvidas inicialmente, são as vias próprioceptivas,
razão pela qual, os sons realizados inicialmente pelos bebês
são reflexos. Com a contribuição da função
auditiva, a criança passa a ter a possibilidade de exercitar o sistema
fonológico.
Na primeira etapa da comunicação humana, a etapa pré-verbal,
as manifestações lingüisticas não possuem uma
intenção comunicativa, serão então atribuídas
de significado dentro da relação adulto e bebê. Estas
pois, consistem em expressões faciais, corporais, sons etc, que passam
a constituir significado para o adulto.
Tal etapa, ocorre independente da função auditiva, e com a
maturação do Sistema Nervoso Central irá adaptando-se
à reprodução do som percebido.
Desenvolvimento da Função Auditiva
Ao nascer a criança só reage a estímulos sonoros
de forte intensidade, e as suas respostas à detecção
do estimulo são respostas reflexas ( apresenta um comportamento auditivo
), que , com a maturação neurológica irá tornar-se
a audição funcional do indivíduo .
Por volta dos 2 meses, com o início do controle de cabeça
e da coordenação com o movimento ocular, a criança
passa a manter atenção ao som.
Dos 4 aos 7 meses, a criança passa a virar a cabeça no plano
lateral, para assim localizar a fonte sonora.
Dos 7 aos 9 meses, a criança começa a localizar a fonte sonora
no plano lateral e indiretamente num plano abaixo.
Dos 9 aos 13 meses, a criança consegue localizar a fonte sonora diretamente
no plano lateral, diretamente para baixo e indiretamente para cima.
A partir dos 16 meses, a criança consegue localizar a fonte diretamente
no plano lateral, para cima e para baixo.
O desenvolvimento de tais etapas, ocorre gradualmente, cada vez necessitando
de um estímulo sonoro de menor intensidade para ser percebido.
Como foi dito anteriormente, chama-se etapa pré-verbal, a etapa na
qual os bebês atravessam durante os 10 primeiros meses de vida, e
é caracterizada por uma atividade sonora predominantemente lúdica,
que inicialmente independe da percepção auditiva, e com o
desenvolvimento global da criança irá adaptando-se progressivamente
à reprodução do som percebido.
A fase do balbucio ( atividade sonora), se inicia por volta dos 3 meses
de idade e se caracteriza por ser de uma natureza essencialmente lúdica.
Inicialmente o balbucio corresponde à sons de vogais.
As crianças deficientes auditivas também passam pela fase
do balbucio, que se diferencia mais com relação à criança
ouvinte por volta do segundo semestre de vida.
Por volta dos 10 meses a criança passa por um período de maior
desenvolvimento da linguagem, uma etapa chamada de etapa verbal, na qual
ocorre uma maior aprendizagem fonológica. Nessa fase, a imitação
por parte da criança torna-se maior.
A criança deficiente auditiva será incapaz, ou apresentará
maior dificuldade para iniciar jogos sonoros que constituem a primeira grande
etapa para atingir a comunicação oral.
O bebê que nasce com uma grave perda auditiva pode demonstrar que
não percebe os sons desde recém-nascido, isso pode ser detectado
pela ausência de respostas reflexas para estímulos sonoros.
A investigação do comportamento auditivo da criança,
é fundamental para a constatação precoce de algum tipo
de alteração auditiva. Quanto mais precoce for a constatação
de uma deficiência auditiva, maiores serão as chances de reabilitação
da criança.
Muitas vezes o diagnóstico da deficiência auditiva é
retardado, devido as pessoas que convivem com a criança interpretarem
o seu balbucio como fala, sem suspeitar de alteração auditiva,
mesmo existindo uma alteração no comportamento auditivo da
mesma( resposta aos sons).
A criança deficiente auditiva se depara com um problema diferente
do adulto deficiente auditivo, a possibilidade de desenvolver linguagem.
O desenvolvimento físico e mental das crianças com deficiência
auditiva segue a mesma evolução das crianças ouvintes.
A diferenciação ocorre com relação à
estruturação e evolução da linguagem, contribuindo
para que a criança deficiente auditiva possa vir a ter déficit
no desenvolvimento social e intelectual.
Bibliografia:
-Russo, I.; Santos, T.- Audiologia Infantil. São Paulo, Cortez-
4ª ed. rev. e amp-1994
-Launay, C.; Maisonny,S. - Distúrbios da linguagem, da fala e voz
na infância. São Paulo, Rocca, 1989.
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Christiane Araújo Angelotti - E-mail: chris_@nutecnet.com.br